domingo, 10 de junho de 2012
Eu Tenho Um Sonho
Em minha última postagem, falando sobre meu sonho de Universidade e a Universidade dos meus sonhos, citei e parafraseei o memorável discurso de Martin Luther King (1929-1968) proferido em Washington, em 1963. Famoso pela repetiççao da frase "Eu tenho um sonho!", o discurso é um marco na história pela defesa dos direitos civis dos negros norte-americanos. Também é uma obra-prima de composição e projeção de imagens. Valorizando e dando pleno sentido à não-violência, esperança, cidadania e amor ao próximo. O discurso é de 1963. Anos depois MLK seria brutalmente assassinado.
Em 1964, MLK foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz.
Leia o discurso na íntegra. Os links abaixo direcionam para o original e a versão em português.
Eu Tenho Um Sonho, em português.
I Have A Dream, no original.
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Minhas Universidades
Ainda criança, caçula de quatro irmãos, assistia entre admirado e orgulhoso meu irmão mais velho ir para a tal 'universidade'.
O tempo e muito estudo se encarregaram de forjar em mim a massa que muito duramente passou no vestibular. Eu nem cabia em mim, pobre moço pobre, de tão boa ventura.
De novo o tempo girou e os anos da mocidade ficaram na universidade. Ela me deu em troca o grau de bacharel, o mestrado, o doutorado. De tal sorte que eu sempre lembro do Machado:
"No dia em que a Universidade me atestou, em pergaminho, uma ciência que eu estava longe de trazer arraigada no cérebro, confesso que me achei de algum modo logrado, ainda que orgulhoso. Explico-me: o diploma era uma carta de alforria; se me dava a liberdade, dava-me a responsabilidade".
Abracei as duas: liberdade e responsabilidade e fui atrás do meu destino.
Despenquei lá do norte e disse adeus Belém-do-Pará.
E de novo me vem o Machado:
"Guardei-o [o diploma] e vim por ali fora assaz desconsolado, mas sentindo já uns ímpetos, uma curiosidade, um desejo de acotovelar os outros, de influir, de gozar, de viver, — de prolongar a Universidade pela vida adiante..."
E depois de muito perambulado, me vi instalado na nossa Universidade Federal do Paraná. Jovem centenária senhora.
Como Górki, me vi acumulado das minhas universidades feitas de vida e de gente.
E aqui estamos.
A Universidade que eu sonho ainda é um sonho. E como aquela voz que falava com paixão: eu tenho um sonho!
O sonho de ver a Universidade como o templo que é, da universalidade do conhecimento. Conhecimento que seja livre, gratuito, socialmente referenciado. O sonho de ver a Universidade como uma grande república aberta a todos os estudantes. Pátio para a liberdade de expressão, sem as máculas do ódio, do preconceito e da tirania.
O sonho de ver nossas Universidades erguidas sobre a solidez da qualidade e da beleza, da justiça e da perfeição.
Ver nossos colegas trabalhando para longe da sujeição, livres do improviso e do precário, libertos do adoecimento do corpo e da alma.
Eu tenho o sonho de ver nossas Universidades como o mais elevado altar do que a nossa magna carta tão lindamente propõe...
"...instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias".
Eu tenho o sonho de legar nossas Universidades aos netos de nossos netos. De prolongar a Universidade pela vida adiante...
Nós também queremos recordar a pátria da cruel urgência de defender sua Universidade Pública.
Será fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este inverno sufocante do legítimo descontentamento dos professores e dos estudantes não passará até termos uma renovadora primavera de conquistas.
Conquistas reais construídas para além de promessas fingidas e esperanças frustradas.
E nós não estamos sós. A cada dia novos colegas se juntam a nós em defesa da Universidade.
Não estamos sós, por que, como disse o poeta:
"Só padece de solidão quem se isola das lutas de seu tempo!"
O tempo e muito estudo se encarregaram de forjar em mim a massa que muito duramente passou no vestibular. Eu nem cabia em mim, pobre moço pobre, de tão boa ventura.
De novo o tempo girou e os anos da mocidade ficaram na universidade. Ela me deu em troca o grau de bacharel, o mestrado, o doutorado. De tal sorte que eu sempre lembro do Machado:
"No dia em que a Universidade me atestou, em pergaminho, uma ciência que eu estava longe de trazer arraigada no cérebro, confesso que me achei de algum modo logrado, ainda que orgulhoso. Explico-me: o diploma era uma carta de alforria; se me dava a liberdade, dava-me a responsabilidade".
Abracei as duas: liberdade e responsabilidade e fui atrás do meu destino.
Despenquei lá do norte e disse adeus Belém-do-Pará.
E de novo me vem o Machado:
"Guardei-o [o diploma] e vim por ali fora assaz desconsolado, mas sentindo já uns ímpetos, uma curiosidade, um desejo de acotovelar os outros, de influir, de gozar, de viver, — de prolongar a Universidade pela vida adiante..."
E depois de muito perambulado, me vi instalado na nossa Universidade Federal do Paraná. Jovem centenária senhora.
Como Górki, me vi acumulado das minhas universidades feitas de vida e de gente.
E aqui estamos.
A Universidade que eu sonho ainda é um sonho. E como aquela voz que falava com paixão: eu tenho um sonho!
O sonho de ver a Universidade como o templo que é, da universalidade do conhecimento. Conhecimento que seja livre, gratuito, socialmente referenciado. O sonho de ver a Universidade como uma grande república aberta a todos os estudantes. Pátio para a liberdade de expressão, sem as máculas do ódio, do preconceito e da tirania.
O sonho de ver nossas Universidades erguidas sobre a solidez da qualidade e da beleza, da justiça e da perfeição.
Ver nossos colegas trabalhando para longe da sujeição, livres do improviso e do precário, libertos do adoecimento do corpo e da alma.
Eu tenho o sonho de ver nossas Universidades como o mais elevado altar do que a nossa magna carta tão lindamente propõe...
"...instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias".
Eu tenho o sonho de legar nossas Universidades aos netos de nossos netos. De prolongar a Universidade pela vida adiante...
Nós também queremos recordar a pátria da cruel urgência de defender sua Universidade Pública.
Será fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este inverno sufocante do legítimo descontentamento dos professores e dos estudantes não passará até termos uma renovadora primavera de conquistas.
Conquistas reais construídas para além de promessas fingidas e esperanças frustradas.
E nós não estamos sós. A cada dia novos colegas se juntam a nós em defesa da Universidade.
Não estamos sós, por que, como disse o poeta:
"Só padece de solidão quem se isola das lutas de seu tempo!"
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